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Nota Mental: Já tinha saudades de escrever assim… à bruta e sem filtros!!!

É que já começo a estar um bocado farta desta corrente, cheia de boa vontade e muito solidária… aposto que sim, que quer salvar e dignificar a minha profissão.
É certo que a comunidade, em geral, é muitíssimo sensível à profissão de Educador de Infância e que todos confirmam e defendem acerrimamente o valor inquestionável do nosso trabalho – mas a verdade é que continuamos a ser vistos como profissionais de classe “inferior” cuja necessidade de ensino superior para a exercer é, tantas vezes, questionada.
O que é que andaste a aprender na faculdade?!
A mudar fraldas?!
Educador de Infância – quem o é tenho a certeza absoluta de que já foi confrontado com esta pérola mais do que uma vez… e quem o deseja ser prepare-se que, tanto quanto sei, a piada ainda sobrevive.
Eu sou Educadora de Infância.
Quando é que os Educadores de Infância começam a registar, a documentar, a reflectir e a justificar pedagogicamente o que fazem nas suas salas, na sua rotina, na sua prática?!
Ou pensam que os Arquitectos não evoluem as suas planificações e não conquistam novas correntes à medida que se vão maturando na sua profissão?!
Há quem se questione porque motivo nunca se vê nenhum artigo ou livro ou entrevista sobre a educação de crianças em que o especialista seja um Educador de Infância? 
É que na Educação de infância, ainda, existe uma “corrente empírica” onde cada um faz o que lhe apetece na sua sala ou onde se faz um “bocadinho” de tudo… e, na verdade, não se chega a perceber aquilo em que se baseia nem aquilo em que se acredita e, às vezes, nem porque se faz ou o que se faz.
Quantos Educadores de Infância à pergunta: segue algum modelo? Qual a sua corrente pedagógica? Respondem: Ai!!! Eu?! Pois… eu faço um bocadinho de tudo. Eu sou um bocadinho de tudo.
E, no fim, rematam com um brilhante: É que eu não sou nada de fundamentalismos.
Questiono-me sempre o que é que este “fundamentalismos” quererá dizer?!
Será que se estão a referir aos profissionais que têm um modelo que seguem e que aprofundam na sua prática profissional?!
Será que se estão a referir aos profissionais que pesquisaram várias correntes pedagógicas e optaram por uma?!
Será que referem “fundamentalismos” como forma de terminar as perguntas sobre o assunto?!
Questiono-me eu: se são um “bocadinho de tudo” como é que progridem? Como é que melhoram a sua prática profissional? Como é que investem na sua profissão?! Investem em tudo?! Formam-se em tudo?! Investigam em tudo?! 
Quando é que os Educadores de Infância começam a tratar-se por Educadores de Infância e deixam de ser “as educadoras”?!
Porque se não formos nós a dignificar a nossa Profissão – quem será?! Sim… e é por estes pequenos pormenores que, também, se começa!
Ou todos os Educadores de Infância são mulheres?!
Não querem que se associe a nossa profissão ao sexo feminino – mas, assim, é difícil de mudar a tendência!
Quando é que os Educadores de Infância apostam na sua formação contínua e deixam de se limitar ao que estudaram na sua formação inicial?!
Ou, acreditam que os tempos não mudaram e os pensamentos, dinâmicas, estratégias e pedagogias não evoluíram?!
Será que os Médicos não frequentam formações? Será que os Políticos não vão a congressos? Será que os Advogados não lêem as actualizações das leis?
Quando é que os Educadores de Infância deixam de escrever em registos internos, públicos ou privados terminologias como: pequeninhos, pequenotes, pimpolhos, meninos, meninas, bebezocas, bebezinhos – e escrevem, simplesmente, crianças?! Crianças do sexo feminino e crianças do sexo masculino?!
Já estou a imaginar um artigo do Prof. Mário Cordeiro a começar com: Os pequenotes revelam…!!! Ou… Ultimamente tem-se verificado uma tendência para os pimpolhos valorizarem…
Quando é que os Educadores de Infância deixam de ter pseudo-reuniões com Pais à porta das suas salas, nos corredores da Escola e nos recreios e passam a marcar reuniões de Pais para falarem sobre, precisamente, essas mesmas situações, problemas, questões ou curiosidades?!
Pois que é sabido que, qualquer Médico Ginecologista, dá o seu parecer sobre o estado de saúde do seu paciente entre a porta de entrada do seu gabinete e a sala de espera do consultório!
Quando é que os Educadores de Infância disponibilizam um horário para reuniões de Pais e deixam de mudar e remarcar vezes sem conta?! Também vos acontece quando tentam marcar consulta num Dentista?! Ele normalmente desmarca tudo em função da vossa disponibilidade, não é???!!! Aliás, até pede a terceiros para ficarem com os seus filhos só para ter disponibilidade para a vossa consulta???!!! Se a educação de um Filho é tão importante, como acredito profundamente que seja, porque motivo as Famílias raramente têm disponibilidade nos horários dados pelos Educadores de Infância para reuniões sobre “o mais importante no Mundo”?! Ou porque é que as Reuniões de Pais e outros acontecimentos da vida da Escola têm de ser marcados fora do horário laboral das Famílias e em tempo extra dos Educadores de Infância?!
Quando é que os Educadores de Infância deixam de usar fardas que mais parecem as batas das crianças ampliadas para tamanho de adulto?!
Quando é que os Educadores de Infância deixam de sair do seu local de trabalho com a sua farda para irem ao café, ao supermercado, à loja do chinês, à farmácia… na sua hora de almoço?!
Também costumo ver, aliás, vários Médicos Cirurgiões acabadinhos de sair da sala de operações, ainda com sangue na bata – a comprar copos de plástico, na Loja do Chinês, para o piquenique que vão ter com uns amigos no fim-de-semana!!! Isto ou um Chef de um restaurante a comprar xarope para a tosse na farmácia com a jaleca vestida.
Quando é que os Educadores de Infância deixam de usar “inhos” e “inhas” como terminologia de palavras na sua rotina?!
Minha queridinha Luisinha já terminaste o teu barquinho para a tua Mãezinha? Mostra à Mariazinha!
Ou será isso que os torna mais afectivos e com emoções mais autênticas?!
Quando é que os Educadores de Infância deixam de avaliar emoções, comportamentos e desempenhos com bolas verdes, vermelhas, amarelas, smiles e caras tristes?!
Como é que se proporciona desenvolvimento e melhoria e progresso e evolução e conquista com bolas?! Bolas!!!
Quando é que os Educadores de Infância começam a escrever sem erros?! Afixar e expor trabalhos sem erros ortográficos?!... e usar, pelo menos, o corrector ortográfico?! Um dicionário?!
Quando é que os Educadores de Infância, também, chumbam no seu curso???
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E é isto.
Por hoje é só isto.
Tenho mais umas quantas inquietações… mas por hoje é isto.

Nota Mental: Todas as comparações profissionais feitas foram propositadas.
Qualquer uma das profissões mencionadas é muitíssimo respeitada, valorizada, credibilizada e, também, salarialmente invejada.
Ganham, pelo menos, 4 vezes mais que um Educador de Infância com 13 anos de serviço.
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E a resposta é sim.
Sou uma Educadora de Infância muitíssimo realizada e feliz… e, por isso, continuo a lutar pela dignidade, ética e deontologia da minha profissão.


Nota Mental: Já tinha saudades de escrever assim… à bruta e sem filtros!!!

2 comments:

Nita disse...

É mesmo isto!

Catarina Hébil disse...

Isto dava uma longa discussão... Mas felizmente não lido diariamente com a maioria das situações que descreves. Faz-me sentir uma privilegiada.